Em artigo divulgado pela Harvard Business Review (HBR), neste mês de janeiro de 2020, os autores Robert Pearl e Philip Madvig apresentam um case da Kaiser Permanente (KP) na abordagem assistencial com seus clientes. A KP é um grupo formado por três empresas: operadora de planos de saúde, fundação hospitalar e centro/clínicas médicas.

Inicialmente os autores apontam um problema atual nos Estados Unidos (comum em outros países): 5% da população estadunidense consome 50% do custo assistencial total. Entende-se por custo assistencial recursos financeiros utilizados para cobrir internações, consultas, terapias e exames (ANS, 2018).

Em seguida, os autores dividiram os 5% em três grupos (1, 2 e 3) com as respectivas características e problemas específicos citados abaixo:

 

Tabela 1 Diferenciação por Grupo Modelo KP
Grupos Definição Característica Observação Exemplos Custo Assistencial Total (%)
Grupo 1 Crônicos Condições clínicas que poderiam ser melhoradas e controladas Diversas consultas ao pronto atendimento (PA) e alta incidência de hospitalização. Alta rotatividade e diversidade dos participantes Diabéticos, cardiopatas, asmáticos e doentes mentais 30%
Grupo 2 Catástrofe Eventos isolados e imprevisíveis. Ocorrem apenas uma vez na vida, em geral Sinistro assistencial imprevisível e alta rotatividade Traumas, nascimentos prematuros e câncer (CA) 35%
Grupo 3 Permanente Difícil de se restabelecer a saúde do beneficiário. Diversas condições ruins permanentes Não há cura, apenas tratamento. Alto custo assistencial Doentes renais e transplantados 35%
Fonte: Dados do artigo (2020)

 

Características reforçadas pelos autores para os grupos citados:

  • Grupos 1 e 2 são muito mais diversos do que se imaginava.
  • Os programas tradicionais de monitoramento de pacientes tradicionais (muito populares no Brasil) com gerenciamento isolado de pacientes de fato não reduz os custos assistenciais.

Programas de Gerenciamento de Doenças (tradicional):

Segundo o artigo, os atuais programas de assistência aos beneficiários crônicos são caros e demandam mão de obra de alto custo como enfermeiras e assistentes sociais. Além disso, um beneficiário com múltiplas patologias é tratado por diversas equipes, ocasionando repetição de exames, consequentemente tornando-se financeiramente inviáveis. 

Programa de Gerenciamento Assistencial Proposto pela KP – Atenção Primária (APS) Alavancada 

Ao utilizar recursos tecnológicos para monitoramento remoto do participantes (pressão arterial, batimentos cardíacos, ECG, etc), contratar mão de obra de menor custo (assistentes médicos) e direcionar à internação determinados beneficiários de mais risco, A KP economiza recursos financeiros. A inclusão dos beneficiários aos programas de gerenciamento de doenças tradicionais ocorreria apenas com a devida justificativa.

Características e Vantagens do Modelo KP: 

  1. Integração com atenção primária: evita duplicação de serviços.
  2. Tecnologia: sistemas do tipo electronic health record (EHR) auxiliam no monitoramento de pacientes.
  3. Alertas via SMS: a utilização de alertas objetiva lembrar os pacientes sobre os prazos de exames preventivos.
  4. Telemedicina: auxilia os médicos a monitorar a evolução de sintomas de patologias de beneficiários dentro dos programas (exemplo: pés diabéticos).
  5. Assistentes médicos: reúnem e organizam todas informações dos pacientes para o médico validar. O custo de um assistente médico é, em média, segundo o texto, metade das enfermeiras, e o treinamento de tal profissional tem duração de apenas um ano.
  6. Farmacêuticos: validam as mudanças de medicamentos.

Desvantagens Modelo KP:

Dependem de sistemas EHR e aplicações/tecnologias computacionais modernas. No entanto, essas estão cada vez estão mais disponíveis e o investimento é justificado pois evita visitas emergenciais e internações de longo prazo.

Casos Reais na KP

Câncer de cólon: óbitos relacionados ao câncer de intestino (CA de cólon) seriam evitados com diagnóstico apropriado. Tal neoplasia demanda, segundo informações do artigo, dez anos para evoluir. Se o pólipo não cancerígeno (fase inicial) é detectado e removido, o câncer não desenvolve. Exames de fezes atuais são precisos como exames de colonoscopia tradicionais.

Hipertensão Arterial: uma das maiores dificuldades em se tratar tal patologia, muito comum no Brasil, é acertar a dose de medicamentos necessários. Além disso, os pacientes/beneficiários não tomam os medicamentos corretamente. DIspositivos como o Apple Watch e My Signalsª auxiliam no monitoramento remoto da pressão arterial e alertas (SMS) lembram o paciente de quando tomar medicamento.

Diabetes: o uso do Facetime e Skype por assistentes médicos é uma realidade nos Estados Unidos e auxilia a monitorar feridas remotamente (pé diabético).

Conclusão

O modelo de atenção primária alavanca praticado pela KP tem como objetivo prevenir complicações assistenciais, evitar a hospitalização e reduzir o uso do pronto atendimento (PA). O modelo atual amplamente utilizado por operadoras de planos de saúde (fee for a service) deveria, como propõe o artigo, migrar gradativamente para um modelo com apoio de tecnologias de informação e mão de obra acessível.

A empresa em estudo tenta equilibrar a gestão de cuidados com a gestão financeira, ou seja, um equilíbrio no atendimento clínico com o Return of Investment (ROI) empresarial. Tal estratégia resultou em melhores resultados clínicos e reduziu o custo assistencial da KP entre 10% a 15%.

Referências

ANS. Agência Nacional de Saúde Suplementar. Rio de Janeiro: ANS, 2018. (Site governamental). Disponível em: <http://www.ans.gov.br/>. Acesso em: 20 nov. 2018.

CEFET-MG. Manual de normalização de trabalho científico. Belo Horizonte: CEFET-MG, 2018. Disponível em: <http://www.dcsa.cefetmg.br/wp-content/uploads/sites/35/2017/02/Manual_Normalizaxo.pdf>. Acesso em: 20 nv. 2018.

HARVARD BUSINESS REVIEW. Administrando Pacientes de Alto Custo. Harvard Business Review (HBR). Stanford, jan. 2020. Healthcare. Disponível em: <https://hbr.org/2020/01/managing-the-most-expensive-patients>. Acesso em: 7 jan. 2020.